A cada quatro dias, Brasil tem 100 mil novos infectados pelo coronavírus

Apesar do”apagão” de dados da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, o Ministério da Saúde acompanha atento e munido de dados atualizados como a crise tem se espalhado pelo país. Na contramão das últimas ações, como a retirada do ar de uma plataforma de divulgação e, até, uma possível “recontagem” de vítimas, o governo sabe: a doença nunca esteve avançando tanto no Brasil.

Cálculos de técnicos da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, obtidos pelo Metrópoles, mostram como a enfermidade tem evoluído. Esses dados fazem parte de um conjunto de informações que foram repassadas ao alto escalão do governo. Logo depois, houve a mudança de rumo na forma de dar publicidade aos casos da doença, que esbarrou na transparência e na credibilidade das informações.

Os técnicos da pasta concluíram que a enfermidade está acelerando nas últimas semanas. O argumento é ancorado na multiplicação de adoecimentos de cada grupo de 100 mil pessoas. O país levou 65 dias para atingir o primeiro bloco de 100 mil casos. A primeira notificação ocorreu em 28 de fevereiro, e a taxa foi registrada em 3 de maio.

O segundo grupo de 100 mil casos foi contabilizado em 14 de maio, apenas 11 dias após o primeiro bloco. Uma aceleração de tempo de mais de 80%.

E a epidemia se descontrolou. O índice passou para sete dias, seis dias e tem se mantido em quatro dias. Os últimos 300 mil adoecimentos ocorreram entre 27 de maio e 8 de junho. A cada quatro dias, mais 100 mil casos, mostram os dados da pasta. Quando comparado com o primeiro grupo de 100 mil casos, a aceleração no tempo de contágio chega a 94%.

O mesmo aumento é observado em outro modelo, quando são levadas em consideração semanas epidemiológicas. A pasta conclui que o país ainda está longe da estabilização.

ARTE/METRÓPOLESLinha do tempo do avanço do coronavírus no Brasil

 

Críticas
Especialistas e entidades da sociedade civil defendem mais clareza nos dados e afirmam que as estatísticas são essenciais para a formulação de políticas de prevenção e ações de socorro à saúde.

Organismos como o Conselho Nacional de Saúde (CNS), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre outros, mantêm um movimento para propor ações efetivas no combate à pandemia.

“Enfrentamos uma situação sem precedentes. Vivemos uma crise de saúde, econômico-social e política. Precisamos trabalhar pelo que diz a ciência. A saúde, a democracia e a vida são indissociáveis”, defende a presidente do Cebes, Lucia Souto.

Dados nos tribunais
Com as falhas do Ministério da Saúde na divulgação dos dados, surgiram alternativas para verificar os números. O conteúdo deixou as mesas de sanitaristas e chegou aos tribunais. Um dos exemplos é a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou que a pasta retomasse a divulgação dos dados acumulados do coronavírus.

A judicialização de dados e medidas relacionadas ao novo coronavírus – outro caso é o relativo às ações de isolamento, que o STF decidiu serem de competência de governadores e prefeitos – tem se tornado comum e pode atrapalhar a resposta à pandemia, sobretudo diante da omissão ou controvérsia entre os atores políticos.

“O sistema de Justiça passa a ter um protagonismo relevante na solução de conflitos de cunho político. No Brasil, esse fenômeno tem sido mais presente em duas políticas públicas específicas, a da saúde e da assistência social, mas existem vários outros direitos sociais judicializados. A pandemia acarretará uma nova explosão de demandas diante das inúmeras controvérsias provocadas pelo isolamento social e pelo retorno às atividades em um contexto de pandemia”, defende a doutora em sociologia política e coordenadora da pós-graduação e extensão da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Julia Maurmann Ximenes.

 
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A especialista acredita que os atores do sistema de Justiça [Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública, Advocacia-Geral da União] precisarão se adaptar às possibilidades de controle de políticas públicas em um momento de muitas incertezas e demandas.

Pazuello defende mudanças
O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, defendeu, em reunião do conselho de ministros com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), as mudanças no modelo de contagem dos casos. A nova metodologia contraria avaliações da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas o militar defende que ela traz mais transparência.

O governo lançará uma nova plataforma para disponibilizar os dados. A principal mudança será o uso da data da ocorrência, não mais a data de registro do caso ou morte. Ou seja, no lugar de somar casos com base na data de registro, a pasta vai usar números gerados pela data de ocorrência.

“Os dados são completos, desde a primeira morte. Todos os dados de contaminados estarão lá, desde o primeiro dia. Hoje, temos dois grandes números: contaminações e óbitos. Estamos trabalhando o número de ocupação de UTIs e de curados. Estamos trabalhando para mostrar 100% dos dados”, salientou.

Segundo Pazuello, o modelo adotado pelo governo desde o início da pandemia não era “digno”. “[Mostrar o] acumulado de mortes e contaminados do Brasil não era uma informação digna para mostrar para o povo brasileiro. Hoje temos condições de analisar a progressão de dados de todos os dias. Não tem nada com o número de óbitos ou de adoecimentos”, frisou.

O ministro interino disse que colocar o óbito no dia que morreu e não no dia do boletim traz luz para “a verdadeira curva”, de modo que possibilita “saber o que está acontecendo”. “O lançamento no dia que morreu permite uma ação mais efetiva”, defendeu.

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