“Pedi pelo amor de Deus e ele já me deu soco”, diz idosa que denuncia lutador.

Veterinária e lutador contam que foram ameaçados por idoso e que ele teria começado a agressão.


Por Paula Maciulevicius Brasil 

Roxo ao redor do olho de idosa mostra ferimentos um dia depois da agressão. (Foto: Paulo Francis)
Os roxos pelo corpo e cortes no rosto mostram a agressão que o casal de idosos relata ter sofrido pelo lutador de jiu-jítsu, na madrugada dessa quinta-feira(3), no Bairro Nossa Senhora das Graças, em Campo Grande. As agressões começaram porque o cachorro da família, um pastor-alemão, fugiu.

O lutador e a namorada, médica veterinária, passavam pela rua com dois outros cães da raça Dálmata. O desfecho da confusão foi na delegacia, com o registro da ocorrência como lesão corporal. Fora do papel, nas vítimas ficaram os machucados e o medo de que o agressor retorne.

Por medo de represálias, o casal pediu para não ser identificado. Os idosos contam que estavam deitados já, dormindo, quando um amigo do filho saiu da garagem e na abertura do portão, Apolo, o cão da raça pastor alemão, que já tem 8 anos, fugiu. “Ele é acostumado a sair, cheira, dá uma voltinha e volta pra casa”, conta a dona, microempresária, de 60 anos.


Roxo ao redor do olho é a marca do soco que o idoso levou. (Foto: Paulo Francis)
O relógio marcava 1h30 da manhã, e segundo relatos das vítimas, o lutador e a veterinária voltavam de uma conveniência que fica no posto de gasolina próximo de onde tudo aconteceu.

A conversa deles já estava alta. Eu saí para pegar o cachorro e quando ele viu o deles, um Dálmata, foi lá cheirar. Não foi avançar. Eu chamei o cachorro, que não veio, aí ele já começou a gritar com o amigo do nosso filho: ‘cara, segura seu cachorro’. E ele respondeu que eles podiam passar, podiam ir embora, que ele não iria fazer nada, só cheirar. Aí o lutador parou e falou: ‘quem você pensa que é pra mandar eu ir embora? A rua é pública’.

 

Eu falei: ‘calma, moço. Moro aqui há 30 anos, nunca discuti com um vizinho, você está louco. Nós vamos prender o cachorro, mas você pode ir”, reproduz a idosa.

Enquanto isso, o esposo que dormia também despertou. “Comecei a ouvir ‘pega o cachorro’ e começou aquela discussão, mas meu cachorro não faz tudo isso, eu pensei. Nem latindo ele estava, corri lá fora para ver o que estava acontecendo”, recorda o marido, também microempresário, de 66 anos.

Antes de sair na rua, ele foi pegar a guia do animal para trazê-lo de volta. “Aí a menina veio em cima de mim. Eu segurei ela pelo cabelo, realmente segurei porque ela queria me dar tapa na cara. Quando eu vi, o rapaz veio por cima”, descreve o idoso.


Com medo de represálias e da volta do agressor, casal vítima pensa até em se mudar. (Foto: Paulo Francis)
“Eles estavam totalmente alterados, alcoolizados, ou até mais coisa que a gente não sabe”, detalha o microempresário.

A esposa viu que quando o marido segurou a jovem, o lutador partiu para cima para acertar o idoso. “Eu falei: ‘moço, pelo amor de Deus não faça isso’. Quando eu terminei de falar, senti que ele me deu um murro e eu fui para o chão. No que eu caí, ele marido] caiu do meu lado também”, lembra.

O rosto dela ainda está inchado, com corte no supercílio, além do roxo no olho direito. O dele tem marcas do soco no lado esquerdo do rosto, além de machucados pelo braço e pés e muita dor nos ombros, consequência da queda com a força da pancada.

O microempresário conseguiu pegar o cachorro que não atacou ninguém nem feriu o outro cão e a família voltou para casa. “Eles gritavam: ‘seus covardes, sai pra fora, vem’. ‘Eu sou lutador de jiu-jitsu, eu bato mesmo, vem aqui fora pra ver o que acontece'”, relembra o casal. De dentro de casa, eles chamaram a Polícia Militar que compareceu e levou todos para a delegacia em viaturas diferentes.

“Tanto ela quanto ele foram muito agressivos. Estavam totalmente transtornados, desacatavam os policiais”, conta o casal.


Apolo, cão da raça Pastor Alemão não chegou a avançar em ninguém nem machucar animais. (Foto: Paulo Francis)
Os idosos nunca tinham visto o lutador e a namorada e só souberam pelo boletim de ocorrência, que os dois moram a poucos quarteirões, no Bairro Parque Residencial Azaleia.

“Foi uma coisa estúpida, porque nenhum de nós agrediu eles. Eu só pedi pra ele parar, eu pedi ‘moço, pelo amor de Deus para’ e ele já me deu um soco na cara. Não teve situação para acontecer o que aconteceu”, afirma a idosa.

O marido acredita que se fossem outras pessoas, o caso não teria terminado em violência. “Teria sido assim, cada um segura o seu cachorro e leva pra dentro. Tanto é que eu peguei meu cachorro e levei pra dentro”, recorda.

Na delegacia, durante o registro do boletim, a idosa pediu para ir até o posto de saúde para ser atendida. Além dos ferimentos, ela também sentia dores de cabeça. Chegando lá, recebeu curativo e teve de ser medicada. “Minha pressão foi a 20, eles nem queriam me dar alta do posto. Tomei medicação, esperei um pouquinho e voltei pra delegacia”, fala.

Para a Polícia, o lutador e a namorada disseram que eles que foram agredidos. “A jovem ainda me acusou, dizia que eu queria bater, atirar nela, sendo que nem arma eu tenho. E falou que eu batia na minha mulher todos os dias”, conta.


Marcas de quando idoso caiu ao chão depois de ser socado por lutador. (Foto: Paulo Francis)
“O policial ainda perguntou ‘mas onde ele te bateu? Pode me mostrar a lesão?’ Eu eu só segurei ela, só me distanciei pra mão dela não me alcançar”.

Depois de mais de 30 anos morando no mesmo bairro, o medo da violência se repetir está fazendo até o casal pensar em se mudar. “Nunca discutimos com vizinho, com nada. Aqui acabou a paz, a gente fica com medo dele voltar”, diz o casal.

Outro lado – O Campo Grande News conversou com a médica veterinária que tem 26 anos que explicou que costuma passear com os cães à noite, porque tem dois empregos e é o horário que consegue sair com os animais. Os dois são filhotes da raça Dálmata.

Dizendo que está havendo muito sensacionalismo em cima do caso, a jovem disse estar muito chateada com a situação e que quem a conhece de verdade nem precisaria explicar a situação toda que na hora ganharia um abraço.


Rosto de lutador arranhado. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ela e o namorado voltavam para casa quando passaram na rua onde mora o casal de idosos. “Nossos dois cachorros estavam na guia, tudo certinho, super mansos, quando uma cachorra da raça Pastor Alemão fugiu, segundo uma testemunha, esse cachorro sempre fica ali. E eles são de alta potência, são cães treinados. Ela escapou e veio pra cima de nós avançando. A gente ficou até colocando os Dálmatas na frente pra ela não nos morder”, conta.

Na versão dela, o filho do casal saiu e em vez de segurar o cachorro, o deixou solto. “Acredito que estava todo mundo bebendo, e em vez dele simplesmente segurar, ele deixou solto em cima da gente e mandou a gente sair andando que ele ia pegar o 38. Autoritário mesmo, o dono da rua. Nós respondemos numa boa e ele passou a ameaçar a gente”, fala a veterinária.

Em resposta, ela e o lutador disseram que estava errado e que o cachorro deveria estar preso. “Neste percurso, a senhora saiu pra fora e ameaçou a gente, nós só estávamos tentando sair, mas como íamos sair com o cachorro pulando na gente? E daí saiu o senhor de idade que em vez de segurar a cachorra, gritou: ‘pega o 38’ e passou a ameaçar a gente igual o filho”, descreve.

A jovem diz que ela foi agredida primeiro pelo idoso, que a puxou pelos cabelos e lhe deu tapas na cara. “Eu tô cheia de hematoma, não consegui fazer exame de delito ainda, mas vou fazer na segunda. Toda versão tem dois lados e eles nem tem como provar que a gente fez esse tipo de coisa, estão falando como se a gente tivesse saído ileso”, afirma a veterinária.

Ela conta que caiu com os tapas na cara dados pelo idoso e que o namorado ficou todo arranhado. “Eu gritei, me ajuda aqui pra ele e nisso ele foi me socorrer. Realmente teve uma troca de socos entre meu namorado e o senhor, mas a senhorinha ela caiu. Ela caiu no asfalto, levantou e foi tentar tirar o velho que estava me puxando. Não fomos nós que batemos, de jeito nenhum”, alega.


Roxo de marca de agressão no braço do lutador. (Foto: Arquivo Pessoal)
A jovem disse que a senhora teria sido agredida pelo próprio marido quando tentava tirá-lo da confusão com o lutador. “Ele deu alguns golpes e deve ter pego nela, talvez tenha ficado até mais roxo o olho por isso. Mas em nenhum momento meu namorado encostou a mão nela. Queria que tivessem câmeras lá pra eu conseguir provar”, diz.

Na delegacia, a jovem conta que ficou ainda mais indignada e que chamou sim os policiais de “bosta”. “Eu fiquei bem exaltada sim, porque pra mim estava acontecendo uma coisa que não cabe no meu pensamento e nem nos deram ouvidos. Me algemaram”, relata. “E o velho era tratado como se fosse um rei, a gente ficou lá sem poder fazer ligação, a Deus dará sem nem sermos ouvidos”.

Sobre o boletim de ocorrência, ela conta que relutou em assinar por ter ficado chocada com o que foi descrito e que retornou à delegacia no dia seguinte para registrar a sua versão. “Mas me disseram que se eu não assinasse, eu ia ser presa”.


No joelho, marcas da confusão envolvendo cães que terminou na delegacia. (Foto: Arquivo Pessoal)
O lutador e a namorada dizem que eles que ligaram para a Polícia Militar pelas ameaças recebidas. “Na notícia eles falam que a gente ameaçou de voltar, mas é baixo. É difícil falar isso porque eles são senhores de idade, mas é muito baixo. Eu não teria coragem de fazer isso nem com meu pior inimigo”, comenta.

Para a veterinária, o casal de idosos está se aproveitando da situação para culpá-los. “Quem nos ameaçou com arma 38 foram eles. Tudo começou por falta de cautela com animal, nós só pedimos para eles segurarem e eles não seguraram e depois ele veio me dar tapa na cara e está tudo bem? É surreal”.

Estou muito sentida, mas é a minha palavra contra a deles. Nós fomos tratados como se fossemos delinquentes totais. Nós não iniciamos nenhuma lesão dolosa, meu namorado só foi me tirar do senhor porque ele estava me arrastando pelo cabelo”, completa.

Para ela, o desfecho teria sido outro se o cachorro que fugiu tivesse sido segurado. “É bem delicada a situação, mas poderia ser evitado isso se o filho deles tivesse pego o cachorro”.

Justiça – À espera de Justiça, os idosos não querem que o caso fique impune. “Uma pessoa que faz uma coisa dessa, eles já têm passagens, a gente quer que a Justiça faça alguma coisa para que eles não criem problemas e machuquem outras pessoas. E se pega, de repente uma criança? Meu neto estava dentro de casa, mas graças a Deus não acordou”, expressa o casal.

Para a família, faltou a Polícia usar do Estatuto do Idoso e quem sabe até prender o lutador e a veterinária. “Como que não tem nada do Estatuto do Idoso para enquadrar de outra forma? Ficou só como lesão”, questionam familiares.

Os filhos e netos vão formalizar também denúncia na Promotoria do Idoso.

*Matéria editada às 12h58 para acréscimo de fotos enviadas pela médica veterinária que mostram a agressão sofrida por eles no caso. 

– CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

Compartilhe essa notícia com seus amigos:

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *