O aumento de crimes cometidos por falsos entregadores afeta também os trabalhadores que fazem entregas por aplicativo, que acabam sendo vítimas de preconceito e podem ser confundidos com assaltantes.
Para a Associação dos Motofretistas de Aplicativos e Autônomos do Brasil (AMABR), é preciso que a profissão seja mais bem regulamentada. A entidade defende que as entregas sejam feitas apenas pelos motociclistas que possuem cadastro na prefeitura.
“Toda essa onda de crimes poderia ser evitada se o poder público fizesse funcionar a lei 14.491/07, do motofrete, que exige o uso de um cadastro na prefeitura e um baú na moto com a identificação do número cadastro da prefeitura e placa da moto. A placa das motos dos motofretistas regularizados são vermelhas”, diz a entidade.
Já a Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel – SP) tomou a iniciativa de pedir ao iFood que providencie uma forma de identificação nas mochilas térmicas que os entregadores carregam nas costas.
Para a associação, um número de registro na mochila poderia ajudar a identificar os verdadeiros entregadores e também rastrear quem vendeu, perdeu ou teve roubado o acessório.
A entidade também procurou a Secretaria Estadual de Segurança Pública em março para relatar o uso indevido das mochilas de aplicativo por criminosos disfarçados e pedir medidas para coibir este tipo de crime.
O que dizem a polícia e o governo?
O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves. — Foto: Reprodução/GESP
Indicado pelo governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), como novo delegado-geral da Polícia Civil do Estado, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves disse que um dos objetivos da sua gestão é combater os crimes cometidos por motociclistas em SP.
A razão principal da troca nos comandos da polícia, segundo Garcia, é frear o crescimento da violência no estado de São Paulo. Em março, o número de roubos, furtos e homicídios cresceu no estado em comparação com o mesmo período de 2021, de acordo com os dados mensais da própria Secretaria da Segurança Pública (SSP). Os furtos em geral tiveram aumento de 52%, de 33.237 para 50.467, e roubos em geral subiram 22%: de 16.951 para 20.719.
Segundo o governador, o estado vai anunciar, em 4 de maio, estratégias para “justamente prender bandido que se disfarça de operador de aplicativo”.
Governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), em evento no Poupatempo nesta terça feira, (24) — Foto: ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
“Estou convidando todos os aplicativos, iFood, Rappi, para que eles possam nos ajudar no combate à criminalidade. Não adianta nós termos um novo momento na sociedade e achar que a própria polícia vai resolver tudo. Eu quero, sim, o apoio desses aplicativos, pra juntos a gente entender e compreender como vivem os operadores desses aplicativos e também separar o joio do trigo nesse momento”, disse o governador.
“Tem várias ideias sendo colocadas na mesa, eu não quero apresentar aqui para não parecer precipitado, para que no dia 4 [de maio] a gente apresente essa estratégia, as operações que a gente vai começar justamente pra prender bandido que se disfarça de operador de aplicativo. Esse é o grande objetivo do estado de São Paulo“, completou Garcia.
O que dizem as empresas de aplicativo?
8 de setembro – Entregadores de aplicativos fazem protesto em frente à Câmara Municipal de São Paulo — Foto: Celso Tavares/G1
Em nota, as duas principais empresas de entrega de comida por aplicativo, o iFood e a Rappi, disseram que estão colaborando com as autoridades para coibir os crimes cometidos por falsos entregadores.
Veja abaixo as notas completas das empresas:
“O iFood entende que é importante a união de esforços e está sempre à disposição para colaborar com as autoridades de segurança pública. A empresa também tem avançado no processo de escuta ativa por meio de aproximações com associações de bairro.
Para se cadastrar na plataforma, é preciso ter mais de 18 anos e incluir os dados e documentos solicitados, que variam de acordo com o veículo de entrega escolhido: moto, bicicleta ou carro. Todos os dados e os documentos são verificados – incluindo a utilização de tecnologia OCR que permite verificar se a pessoa da foto é a mesma pessoa do documento apresentado. Também possuímos uma ferramenta de reconhecimento facial que é ativada periodicamente como uma medida de segurança para coibir o aluguel e empréstimo da conta.
Caso seja confirmado que o cadastro do entregador esteja sendo utilizado para prática de atividades ilícitas ou descumprindo o Termo de Uso da Plataforma, as providências cabíveis serão tomadas imediatamente.
É importante ressaltar que a despeito de ser necessário uma bag para fazer entregas com o aplicativo, não há a exigência de uso da bag com o logo. Portanto, o fato de uma pessoa estar utilizando uma bag com a marca do iFood não significa que esteja fazendo uma entrega pela plataforma ou ainda que possua cadastro nesta.
O iFood também mantém um time dedicado à investigação e prevenção a fraudes, visando minimizar e combater de forma preventiva qualquer tipo de golpe e demais prática de atividades ilícitas As denúncias recebidas contribuem para o trabalho de prevenção, que envolve o uso de dados para prever esse tipo de comportamento criminoso e promover ações para evitá-lo sempre que possível. Sempre que pertinente, o iFood encaminha as denúncias para apuração pelas autoridades competentes, bem como coopera sempre que requisitado.”
“O Rappi condena os criminosos que se passam por entregadores para cometer delitos. A empresa já se reuniu com a Secretaria Estadual de Segurança Pública para cooperar na busca por soluções desse grave problema de segurança pública.
O Rappi ressalta que todos os entregadores independentes que atuam em sua plataforma passam por processo formal e rigoroso de cadastramento, o que inclui fotos, documentos pessoais e outros dados comprobatórios, além verificação de segurança a partir de fonte de dados públicos, para que todas as partes – o usuário, o próprio entregador e o Rappi – façam parte de um ecossistema seguro.”

Alex Gabriel de Holanda Peres (à direita da foto) é procurado como suspeito de matar jovem a tiros na Zona Sul de São Paulo. Câmera gravou momento que falto entregador atirou na vítima — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal/ Polícia Civil